Um logo pro meu bom amigo Gustavo, o DJ T2.
One logo for my good friend Gustavo, DJ T2.
sexta-feira, 18 de março de 2011
terça-feira, 15 de março de 2011
A Barca
Era uma madrugada daquelas em que se deveria estar em casa dormindo. Caminhava lentamente, aborrecido com o término de um namoro.A noite quente se faria agradável , não fosse o rompimento.Eu vinha a pé, como sempre.Eram por volta de três e meia da manhã. O percurso incluía passar em frente ao Hospital Conceição, lugar que não me trazia boas lembranças, tendo em vista que já passara uma madrugada ali por conta de uma suspeita de apendicite que não se confirmou.Raríssimas pessoas circulavam pela área,funcionários durante uma pausa para fumar,taxistas e um ou outro paciente chegando.Eu vinha com a cabeça baixa,evitando contato visual com quem quer que fosse, sempre odiei ser visto entristecido,e a atmosfera hospitalar não contribuía muito com meu senso de humor.A certa altura,ao levantar o olhar examinando a rua para atravessá-la, ouvi um veículo,permaneci na calçada onde estava e observei uma lotação se aproximando.Ela já era uma velha conhecida, embora jamais tenha embarcado pois aquela simplesmente não era a minha rota.Em sua lateral pude ler: H. Conceição 666.
Nunca fui cristão, muito menos supersticioso, o número da besta para mim sempre foi divertido pelo significado sinistro e seu potencial criativo, mas jamais levei coisas assim a sério.No entanto,gostava de pensar naquele carro específico como “A Barca dos Mortos” ,afinal, fora ela percorrer a linha de um hospital sinistro e carregar a numeração 666, todas as outras vezes que nossos caminhos se cruzaram foram durante as madrugadas.Segui caminhando enquanto “A Barca dos Mortos” se afastava pela rua escura.A área era cravejada funerárias e um grande terreno abandonado onde outrora funcionou uma fábrica de fogões, já em ruínas.A única fonte de luz passando o hospital vinha das vitrinas das funerárias, mas não se via viva alma lá dentro, apenas caixões em diversos modelos, coroas de flores e mesas nuas de qualquer adereço ou material de escritório.Pensei como deveria ser a rotina cruel daqueles funcionários, a espera de famílias devastadas pela dor para tentar vender o serviço funerário mais rentável.De modo algum esses pensamentos ajudavam a tornar minha noite menos deprimente, ao menos eu seria a última pessoa a correr riscos perambulando pela madrugada solitária.Meu aspecto não despertaria interesse de assaltantes e em geral eu era deixado em paz pela polícia também.Ao final da longa avenida do hospital,das funerárias e do terreno abandonado ficava a avenida principal que me traria até em casa.Aquela hora já não haviam ônibus e poucas lotações passavam, assim como não tinham muitas pessoas circulando naquela área,já bem melhor iluminada.Eu via eram fachadas comerciais fechadas,corredores de ônibus vazios e um ou outro posto de gasolina,com muito pouca gente.
Por alguns minutos caminhei sem a presença de mais ninguém pela rua, parecia uma cidade abandonada.Pouco depois comecei a me aproximar região dos inferninhos, casas de espetáculo destinadas a públicos humildes.Risadas anunciavam uma noite de diversão para eles, para mim pontuavam a solidão naquele momento.A medida em que me aproximava começaram a aparecer barraquinhas de cachorro quente e bebidas, alguns de seus freqüentadores me observavam, era visível que eu não fazia parte daquele grupo e não estava indo para o mesmo lugar que eles.Eu não me sentia incomodado com a curiosidade natural de gente diferente de mim e não me importava com seus olhares, para falar a verdade eu mal os notava naquele momento, já que caminhava de cabeça baixa.Talvez fosse justamente isso que despertava a atenção daquelas pessoas.As carrocinhas de “hot-dog” foram rareando,bem como os freqüentadores dos pagodes e os taxistas, que circundavam a área como abutres sobrevoando carniça.Por breves minutos voltei a ser um caminhante solitário,foi quando a uma quadra de distância percebi uma figura inteiramente vestida de branco que identifiquei como uma velha senhora.Mas o que diabos uma senhora de idade fazia na rua a uma hora daquelas?Seria a mãe de alguma garota dentro daqueles inferninhos?Ela sim era alvo fácil para assaltantes e corria risco. Porém, a medida que me aproximava e via melhor os detalhes, passava a fazer sentido que ninguém a molestasse,e foi quando cheguei a poucos metros que pude ter melhor noção.
Vestida dos pés a cabeça de branco, não era um branco limpo,uma velha blusa já puída e encardida,a saia de crente refletia a dureza que deveria ser a vida da pobre mulher.Sapatos em estado lastimável,a pele era muito pálida,um tanto amarelada e extremamente enrugada.O rosto era ainda mais enrugado e transmitia um semblante arruinado,emoldurado por cabelos longos e desgrenhados,seriam brancos se não tivessem um tom amarelado.A distancia dava aquela figura uma uniformidade alva fantasmagórica, mas a poucos metros os detalhes eram ainda piores.Evitando olhar nos olhos dela eu só a observei a distancia, pensando o quanto sinistra era aquela criatura da noite e como ela era assustadora.Ao chegar mais perto evitei confrontamento visual, ela não. Ela ao mesmo tempo transmitia fragilidade e pavor.Assim que cheguei suficientemente perto, ela me dirigiu a palavra, com uma voz tão aterradora e angustiante quanto sua aparência.
-Tu acha que ele volta???
Pensei, pronto, não me faltava mais nada!Pra completar essa beleza de noite agora tem até assombração!
Segurei o impulso de tocar na bizarra criatura a minha frente, não acredito em fantasmas ou almas penadas, mas se essas coisas existissem, certamente era assim que se pareciam.Tive medo de tocá-la pois assim estabeleceria contato físico e ela certamente me seguiria pois era uma pessoa carente de atenção,pensei na hora.Ou pior,talvez eu a tocasse e ela realmente não estivesse lá, ainda pior do que assombração, eu viria para casa tendo a certeza de que era esquizofrênico.Mas respondi a velhota com educação,como sempre faço quando se dirigem com educação a mim:
-Olha,eu não sei,nem sei quem é ele.Mas a senhora tem que ter fé, talvez um dia ele volte!
E segui caminhando, pensando o quanto era irônico um ateu empedernido falar de fé para uma velha desesperada no meio da madrugada. Dificilmente ela entenderia aquilo como esperança, provavelmente passaria a responsabilidade para alguma espécie de deus.Não olhei mais para trás,nem sequer para conferir se a mulher me seguia, tudo o que queria era chegar o quanto antes em casa e ainda tinha pelo menos mais vinte minutos de caminhada.Porém, uma noite dessas sempre reserva mais surpresas.Exatamente na esquina seguinte vi se aproximar um rapaz pouco mais novo que eu, negro, completamente chapado de sei lá o que.Não me senti intimidado pois alguém como ele nem teria coordenação motora para violência física.Foi quando ele também me dirigiu a palavra:
-Ó cara, tu sabe onde eu encontro tampa de spray ???
Mais uma vez pensei no circo em que aquela noite tinha se tornado, talvez ele tivesse deduzido que eu fosse grafiteiro ou algo assim,mesmo impaciente,tornei a ser educado e respondi:
-Bah mano,tampa de spray a essa hora? São quatro da manhã! Faz o seguinte, meu velho! Vai seguindo essa quadra, lá na outra esquina tem uma senhora todinha de branco, ELA deve saber onde tu encontra a tal tampa!
O rapaz balbuciou algo que não entendi,ou não me recordo,e eu segui adiante, em pouco tempo estaria em casa, mas a situação já era tão ridícula que eu consegui rir, especialmente quando imaginei o encontro das duas figuras na esquina seguinte.O resto do percurso foi sem incidentes e logo eu cheguei ao meu bairro. Subi a escadaria defronte ao meu prédio,abri o portão e em uns 5 passos já estava na portaria, abri a porta, passei pelo corredor e abri a porta de casa.Vim direto para o quarto e comecei a me despir, estava cansado e deprimido demais para tomar um banho. Fiquei de camiseta e cuecas e arrumei minha cama.Apaguei a luz.
Um minuto depois minha mãe entrou no meu quarto. Perguntou:
-Quem veio dormir contigo?
-Como é?
-Veio alguém contigo!
-Não veio mãe,acabei de tomar um fora!
-Mas eu te ouvi entrando na portaria e acordei,tava acordada quando tu passou pelo corredor de casa, logo atrás de ti vinha uma pessoa de preto que eu não identifiquei!
-Tu tava sonhando, mãe, to sozinho, cansado e triste.
Ela percebeu que era verdade e aceitou a resposta,foi para o quarto dela e eu apaguei a luz.
Nunca fui cristão, muito menos supersticioso, o número da besta para mim sempre foi divertido pelo significado sinistro e seu potencial criativo, mas jamais levei coisas assim a sério.No entanto,gostava de pensar naquele carro específico como “A Barca dos Mortos” ,afinal, fora ela percorrer a linha de um hospital sinistro e carregar a numeração 666, todas as outras vezes que nossos caminhos se cruzaram foram durante as madrugadas.Segui caminhando enquanto “A Barca dos Mortos” se afastava pela rua escura.A área era cravejada funerárias e um grande terreno abandonado onde outrora funcionou uma fábrica de fogões, já em ruínas.A única fonte de luz passando o hospital vinha das vitrinas das funerárias, mas não se via viva alma lá dentro, apenas caixões em diversos modelos, coroas de flores e mesas nuas de qualquer adereço ou material de escritório.Pensei como deveria ser a rotina cruel daqueles funcionários, a espera de famílias devastadas pela dor para tentar vender o serviço funerário mais rentável.De modo algum esses pensamentos ajudavam a tornar minha noite menos deprimente, ao menos eu seria a última pessoa a correr riscos perambulando pela madrugada solitária.Meu aspecto não despertaria interesse de assaltantes e em geral eu era deixado em paz pela polícia também.Ao final da longa avenida do hospital,das funerárias e do terreno abandonado ficava a avenida principal que me traria até em casa.Aquela hora já não haviam ônibus e poucas lotações passavam, assim como não tinham muitas pessoas circulando naquela área,já bem melhor iluminada.Eu via eram fachadas comerciais fechadas,corredores de ônibus vazios e um ou outro posto de gasolina,com muito pouca gente.
Por alguns minutos caminhei sem a presença de mais ninguém pela rua, parecia uma cidade abandonada.Pouco depois comecei a me aproximar região dos inferninhos, casas de espetáculo destinadas a públicos humildes.Risadas anunciavam uma noite de diversão para eles, para mim pontuavam a solidão naquele momento.A medida em que me aproximava começaram a aparecer barraquinhas de cachorro quente e bebidas, alguns de seus freqüentadores me observavam, era visível que eu não fazia parte daquele grupo e não estava indo para o mesmo lugar que eles.Eu não me sentia incomodado com a curiosidade natural de gente diferente de mim e não me importava com seus olhares, para falar a verdade eu mal os notava naquele momento, já que caminhava de cabeça baixa.Talvez fosse justamente isso que despertava a atenção daquelas pessoas.As carrocinhas de “hot-dog” foram rareando,bem como os freqüentadores dos pagodes e os taxistas, que circundavam a área como abutres sobrevoando carniça.Por breves minutos voltei a ser um caminhante solitário,foi quando a uma quadra de distância percebi uma figura inteiramente vestida de branco que identifiquei como uma velha senhora.Mas o que diabos uma senhora de idade fazia na rua a uma hora daquelas?Seria a mãe de alguma garota dentro daqueles inferninhos?Ela sim era alvo fácil para assaltantes e corria risco. Porém, a medida que me aproximava e via melhor os detalhes, passava a fazer sentido que ninguém a molestasse,e foi quando cheguei a poucos metros que pude ter melhor noção.
Vestida dos pés a cabeça de branco, não era um branco limpo,uma velha blusa já puída e encardida,a saia de crente refletia a dureza que deveria ser a vida da pobre mulher.Sapatos em estado lastimável,a pele era muito pálida,um tanto amarelada e extremamente enrugada.O rosto era ainda mais enrugado e transmitia um semblante arruinado,emoldurado por cabelos longos e desgrenhados,seriam brancos se não tivessem um tom amarelado.A distancia dava aquela figura uma uniformidade alva fantasmagórica, mas a poucos metros os detalhes eram ainda piores.Evitando olhar nos olhos dela eu só a observei a distancia, pensando o quanto sinistra era aquela criatura da noite e como ela era assustadora.Ao chegar mais perto evitei confrontamento visual, ela não. Ela ao mesmo tempo transmitia fragilidade e pavor.Assim que cheguei suficientemente perto, ela me dirigiu a palavra, com uma voz tão aterradora e angustiante quanto sua aparência.
-Tu acha que ele volta???
Pensei, pronto, não me faltava mais nada!Pra completar essa beleza de noite agora tem até assombração!
Segurei o impulso de tocar na bizarra criatura a minha frente, não acredito em fantasmas ou almas penadas, mas se essas coisas existissem, certamente era assim que se pareciam.Tive medo de tocá-la pois assim estabeleceria contato físico e ela certamente me seguiria pois era uma pessoa carente de atenção,pensei na hora.Ou pior,talvez eu a tocasse e ela realmente não estivesse lá, ainda pior do que assombração, eu viria para casa tendo a certeza de que era esquizofrênico.Mas respondi a velhota com educação,como sempre faço quando se dirigem com educação a mim:
-Olha,eu não sei,nem sei quem é ele.Mas a senhora tem que ter fé, talvez um dia ele volte!
E segui caminhando, pensando o quanto era irônico um ateu empedernido falar de fé para uma velha desesperada no meio da madrugada. Dificilmente ela entenderia aquilo como esperança, provavelmente passaria a responsabilidade para alguma espécie de deus.Não olhei mais para trás,nem sequer para conferir se a mulher me seguia, tudo o que queria era chegar o quanto antes em casa e ainda tinha pelo menos mais vinte minutos de caminhada.Porém, uma noite dessas sempre reserva mais surpresas.Exatamente na esquina seguinte vi se aproximar um rapaz pouco mais novo que eu, negro, completamente chapado de sei lá o que.Não me senti intimidado pois alguém como ele nem teria coordenação motora para violência física.Foi quando ele também me dirigiu a palavra:
-Ó cara, tu sabe onde eu encontro tampa de spray ???
Mais uma vez pensei no circo em que aquela noite tinha se tornado, talvez ele tivesse deduzido que eu fosse grafiteiro ou algo assim,mesmo impaciente,tornei a ser educado e respondi:
-Bah mano,tampa de spray a essa hora? São quatro da manhã! Faz o seguinte, meu velho! Vai seguindo essa quadra, lá na outra esquina tem uma senhora todinha de branco, ELA deve saber onde tu encontra a tal tampa!
O rapaz balbuciou algo que não entendi,ou não me recordo,e eu segui adiante, em pouco tempo estaria em casa, mas a situação já era tão ridícula que eu consegui rir, especialmente quando imaginei o encontro das duas figuras na esquina seguinte.O resto do percurso foi sem incidentes e logo eu cheguei ao meu bairro. Subi a escadaria defronte ao meu prédio,abri o portão e em uns 5 passos já estava na portaria, abri a porta, passei pelo corredor e abri a porta de casa.Vim direto para o quarto e comecei a me despir, estava cansado e deprimido demais para tomar um banho. Fiquei de camiseta e cuecas e arrumei minha cama.Apaguei a luz.
Um minuto depois minha mãe entrou no meu quarto. Perguntou:
-Quem veio dormir contigo?
-Como é?
-Veio alguém contigo!
-Não veio mãe,acabei de tomar um fora!
-Mas eu te ouvi entrando na portaria e acordei,tava acordada quando tu passou pelo corredor de casa, logo atrás de ti vinha uma pessoa de preto que eu não identifiquei!
-Tu tava sonhando, mãe, to sozinho, cansado e triste.
Ela percebeu que era verdade e aceitou a resposta,foi para o quarto dela e eu apaguei a luz.
domingo, 13 de março de 2011
quarta-feira, 9 de março de 2011
EC Comics Old Witch from The Haunt Of Fear
segunda-feira, 7 de março de 2011
domingo, 6 de março de 2011
EC Comics Old Witch - The Haunt Of Fear
terça-feira, 1 de março de 2011
EC Comics Old Witch - part VIII
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